THOREAU,
Henry. A desobediência civil. Tradução de Sérgio Karam.
Porto Alegre:L & PM, 2011.
Na
melhor das hipóteses, o governo não é mais do que uma
conveniência, embora a maior parte deles seja, normalmente,
inconveniente – e, por vezes, todos os governos o são. (p. 7)
As
objeções levantadas contra a existência de um exército permanente
– e elas são muitas e fortes e merecem prevalecer – podem afinal
ser levantadas contra a existência de um governo permanente. (p. 8)
O
governo em si, que é apenas a maneira escolhida pelo povo para
executar sua vontade, está igualmente sujeito ao abuso e à
perversão antes que o povo possa agir por meio dele. (p. 8)
[…]
o governo é uma conveniência pela qual os homens conseguem, de bom
grado, deixar-se em paz uns aos outros, e, como já disse, quanto
mais conveniente ele for, tanto mais deixará em paz seus governados.
(p. 9)
Deixemos
que cada homem faça saber que tipo de governo mereceria seu respeito
e este já seria um passo na direção de obtê-lo. (p. 10)
Afinal,
a razão prática por que se permite que uma maioria governe, e
continue a fazê-lo por um longo tempo, quando o poder finalmente se
coloca nas mãos do povo, não é a de que esta maioria esteja
provavelmente mais certa, nem a de que isto pareça mais justo para a
maioria, mas sim a de que a maioria é fisicamente mais forte. Mas um
governo no qual a maioria decida em todos os casos não pode se
basear na justiça, nem mesmo na justiça tal qual os homens a
entendem. Não poderá existir um governo em que a consciência e não
a maioria, decida virtualmente o que é certo e o que é errado? Um
governo em que as maiorias decidam apenas aquelas questões as quais
se apliquem as regras de conveniência? (p. 10)
Deve
o cidadão, sequer por um momento, ou minimamente, renunciar à sua
consciência em favor do legislador? Então por que todo homem tem
uma consciência? Penso que devemos ser homens, em primeiro lugar, e
depois súditos. (p. 11)
Não
é desejável cultivar pela lei o mesmo respeito que cultivamos pelo
direito. A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de
fazer a qualquer tempo aquilo que considero direito. (p. 11)
É
com razão que se diz que uma corporação não tem consciência, mas
uma corporação de homens conscientes é uma corporação com
consciência. (p. 11)
A
lei jamais tornou os homens mais justos, e, por meio de seu respeito
por ela, mesmo os mais bem-intencionados transformando-se diariamente
em agentes da injustiça. (p. 11)
Uns
poucos – como os heróis, os patriotas, os mártires, os
reformadores no melhor sentido e os homens – servem ao Estado
também com sua consciência, e assim necessariamente resistem a ele,
em sua maioria, e são comumente tratados como inimigos. (p. 13)
Todos
os homens reconhecem o direito de revolução, isto é, o direito de
recusar lealdade ao governo, e opor-lhe resistência, quando sua
tirania ou sua ineficiência tornam-se insuportáveis. (p. 14)
[…]
um povo, tanto quanto um indivíduo, deve fazer justiça, custe o que
custar. (p. 16)
Não
é tão importante que a maioria seja tão boa quanto vós, mas sim
que exista a bondade absoluta em alguma parte, pois isto fará
fermentar toda a massa. (p. 18)
Um
homem sábio não deixará o direito à mercê do acaso, nem desejará
que ele prevaleça por meio do poder da maioria. Não há senão uma
escassa virtude na ação e multidões de homens. (p. 19)
Se
me dedico a outras ocupações e projetos, devo ao menos verificar,
inicialmente, se não o faço sentado sobre os ombros de outro homem.
Devo sair de cima dele, antes de mais nada, para que também ele
possa ocupar-se de seus projetos. (p. 22)
Aqueles
que, embora desaprovando o caráter e as medidas do governo, dão a
ele sua lealdade e seu apoio, são indubitavelmente seus defensores
mais conscienciosos e frequentemente tornam-se os mais sérios
obstáculos à reforma. (p. 24)
Como
pode um homem ter apenas ma opinião e deleitar-se com ela? Haverá
nela algum deleite se sua opinião for a de que ele se sente lesado?
(p. 24)
Um
homem não tem que fazer tudo, mas algo, e não é porque não pode
fazer tudo que precisa fazer este algo de maneira errada. (p. 27)
Qualquer
homem mais justo que seus semelhantes já constitui uma maioria de
um. (p. 28)
[…]
aquilo que é benfeito uma vez está feito para sempre. (p. 29)
Num
governo que aprisiona qualquer pessoa injustamente, o verdadeiro
lugar de um homem justo é também a prisão. (p. 30)
Uma
minoria é impotente enquanto se conforma à maioria, nem chega a ser
uma minoria então, mas torna-se irresistível quando se põe a
obstruir com todo o seu peso. (p. 31)
[…]
o homem rico […] está sempre vendido à instituição que o faz
rico. (p. 32)
O
melhor que um homem pode fazer por sua cultura, quando enriquece, é
tentar pôr em prática os planos que concebeu quando pobre. (p. 34)
[…]
o Estado nunca enfrenta intencionalmente a consciência intelectual
ou mora de um homem, mas apenas seu corpo, seus sentidos. Não está
equipado com inteligência ou honestidade superiores, mas com força
física superior. (p. 39)
Existem
oradores, políticos e homens eloquentes aos milhares, mas ainda não
abriu a boca para falar aquele interlocutor capaz de resolver as
questões mais discutidas do momento. Amamos a eloquência pela
eloquência e não por qualquer verdade que possa exprimir ou por
qualquer heroísmo que possa inspirar. (p. 55)
Jamais
haverá um Estado realmente livre esclarecido até que este venha a
reconhecer o indivíduo como um poder mais alto e independente, do
qual deriva todo seu próprio poder e autoridade, e o trate da
maneira adequada. (p. 57)
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